Planejamento da educação garante avanços na Saúde da Família do Canadá

Publicado em Notícias - 19 de novembro de 2015

IMG_3414

Foto: Carol Morena

A Atenção Básica à Saúde é a porta de entrada do usuário no Sistema Único de Saúde (SUS), mas os profissionais deste atendimento, por vezes, se encontram mal distribuídos pelo país. Realidade brasileira, esta situação também era comum no Canadá, mas vem mudando por meio da formação de novos profissionais e professores do ensino médico. O assunto foi discutido nessa quarta-feira, 18 de novembro, no 1º Simpósio Internacional Formação em Medicina de Família e Comunidade, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina da UFMG.

No Canadá, o Governo Federal financia a saúde de todo país, oferecendo serviços e medicamentos.  Com o território divido em províncias, era comum que o atendimento em cada uma fosse independente, sem um padrão ou metas pré-estabelecidas pelo governo. “Por isso, o primeiro passo para melhoria da Saúde da Família e Comunidade foi a unificação desse serviço de assistência, resguardadas as características e necessidades de cada comunidade”, explicou o chefe do Departamento de Medicina da Família da Universidade MacMaster, no Canadá, David Price.

Quando não há assistência numa comunidade, o governo financia o transporte até o centro de atendimento mais próximo. Para que isso não fosse mais necessário, os gestores tentaram deslocar profissionais para as áreas que precisavam, sem sucesso. “Os médicos que atendiam nessas comunidades recebiam bonificações salariais. Mas assim que seus contratos de dois ou três anos terminavam, eles voltavam para suas cidades natais. E assim era preciso contratar um novo responsável pela área”, contou o professor.

Então uma nova medida foi tomada na última década: a formação de médicos das próprias províncias – profissionais que, quando formados, voltariam para o atendimento em suas comunidades. “Com esse sistema, em que recrutamos estudantes para as faculdades, os profissionais estão sendo melhor distribuídos no Canadá. Temos uma taxa de sucesso de quase 60%”, destacou.

Outras iniciativas referem-se ao repasse de verbas aos hospitais. As instituições, por exemplo, têm um prazo máximo de espera para o atendimento dos pacientes, e só são pagas ao cumpri-lo. “Antes, os pagamentos também eram feitos pelo número de procedimentos que o hospital realizava, mas hoje isso acontece por grupos de procedimentos. Assim, a instituição realiza a assistência completa ao usuário ao invés de tratamentos mais rápidos e baratos”, lembrou o especialista.

Formando médicos de família

Para se tornar médico no Canadá, os alunos precisam fazer uma graduação antes da Medicina, como Genética ou Biomedicina, para que tenham um conhecimento prévio.  Logo depois, os futuros profissionais fazem a graduação em Medicina por quatro anos, cumprem dois anos de residência médica e realizam uma prova de certificação que lhes dará direito a exercer a profissão.

Nesse período de formação, os estudantes têm contato com a Medicina de Família a todo o tempo. David acentua que os alunos se integram a grupos acadêmicos de várias áreas de interesse, mas sempre estão ligados à área. “Eles fazem internatos em Clínicas de Família, acompanhando atendimentos aos usuários, e na Pós-Graduação passam pelos mais diversos assuntos, principalmente essa especialidade”, exemplificou.

IMG_3408

David Price durante palestra. Foto: Carol Morena

Enquanto aprendem a profissão médica, os residentes também compõem planos para melhoria da saúde em suas províncias. São 800 projetos de intervenção por ano, um por aluno, e pensados em conjunto com professores.

E além de formá-los para o exercício da medicina, as universidades canadenses buscam instruí-los para o ensino. Segundo Price, todos os residentes têm que preparar e dar aulas, e posteriormente são orientados sobre o que melhorar. “E mesmo quando prontos para o ensino, temos um sistema online com pequenos grupos de discussão de profissionais da medicina de família e a troca de saberes”, afirmou.

Educação para além da universidade

“O principal desafio da Saúde hoje é que o conhecimento se desenvolve muito rápido, e é difícil se manter atualizado”, opinou David Price. Por isso, mesmo depois de formados, a cada cinco anos o médico de família do Canadá deve fazer, pelo menos, 250 horas de atividades educacionais, como fóruns, grupos de discussões ou palestras.

Com a constante atualização dos saberes, os médicos de família se tornam conhecedores das mais diversas áreas, o que para o professor é essencial. “Dessa forma, encaminhamos apensas 10% dos casos para especialistas. E isso é muito importante para o acompanhamento da saúde dos usuários”, declarou.

Mas isso não significa que esses profissionais são suficientes para uma atenção completa. Price destaca que uma atenção mais abrangente e correta deve contar com enfermeiros, nutricionistas, assistentes sociais e os diversos outros profissionais da saúde.

Simpósio Internacional

As atividades do 1º Simpósio Internacional Formação em Medicina de Família e Comunidade foram realizadas nos dias 18 e 19 de novembro. Visando a formação acadêmica em Medicina de Família e Comunidade, os debates serviram, também, como preparação para a criação de um Departamento de Medicina de Família e Comunidade na Faculdade de Medicina da UFMG.

 

Leia também:

Faculdade discute criação de Departamento de Medicina de Família e Comunidade

O médico de família faz tempos melhores

Simpósio discute experiências brasileiras em Medicina de Família e Comunidade