Uso crônico de remédios para insônia pode causar dependência e deficit de memória

Publicado em Pesquisa - 8 de Janeiro de 2016

Proposta de intervenção aponta capacitação de médicos e usuários para combate ao problema

 

 Os benzodiazepínicos são um grupo de medicamentos utilizados principalmente para o tratamento da insônia e transtornos de ansiedade.  O uso crônico dessa substância pode causar dependência, diminuição dos reflexos e deficit de memória. Ainda assim, esse grupo tem um grande consumo no país. O benzodiazepínico Rivotril, por exemplo, teve uma ingestão de 18 milhões de caixas de janeiro a setembro de 2015, segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Para reduzir o consumo indiscriminado dessa substância, o enfermeiro Rogério Vale Estanislau desenvolveu uma proposta de intervenção em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na Especialização Estratégia Saúde da Família (Ceesf), ofertada pelo Nescon. Trabalhando na Unidade Básica de Saúde (UBS) Centro na cidade de Governador Valadares – MG, Estanislau percebeu casos de uso crônico dos benzodiazepínicos por mais de quatro anos, enquanto o indicado é a retirada nos primeiros meses ou o mais precoce possível.

“Os pacientes contavam com orientação médica no início do uso, mas o acompanhamento dos quadros de saúde não acontecia”, comenta. Segundo o pesquisador, a não assistência contínua aos usuários da UBS acontecia, em parte, pelo volume de pacientes, mas, também, pela má preparação dos profissionais de saúde em relação a esses medicamentos. “É comum a insegurança em relação ao momento correto dessa retirada ou da porcentagem da dose”, aponta.

O pesquisador explica que, além das medidas com medicamentos, são necessárias mudanças comportamentais como parte do tratamento da insônia. Consumir café ou álcool várias vezes ao dia, tirar sonecas ou assistir televisão durante a noite são atitudes que podem manter o problema, mesmo com o tratamento medicamentoso.

Conhecimento para médicos e pacientes

Para conscientizar médicos e usuários sobre o uso dos benzodiazepínicos, Rogério Estanislau desenvolveu um projeto que começa com a capacitação dos profissionais de saúde, por meio de palestras e pôsteres. As orientações aos médicos, por exemplo, deve abordar assuntos como a retirada gradual do medicamento. “O organismo dos indivíduos se acostuma com as doses, e uma retirada mal realizada pode causar a chamada insônia rebote, pior que a insônia que havia antes do tratamento”, diz.

Já para os pacientes, o planejamento inclui o desenvolvimento de folhetos sobre os benzodiazepínicos e os hábitos de vida relacionados ao sono, além de palestras sobre os assuntos. Para o pesquisador, os usuários da UBS tinham uma ideia muito benigna do medicamento, sem o conhecimento de riscos associados.

Um problema recorrente

Durante o desenvolvimento da pesquisa, Rogério Estanislau conversou com profissionais de diversas unidades de Governador Valadares, além da UBS Centro. Nessas oportunidades, o uso crônico dos benzodiazepínicos foi um problema relatado várias vezes. Ele destaca que quanto maior o tempo de uso da medicação, maior será a necessidade de aumento da dosagem e a possibilidade de vício. “Por isso, a aplicação dessa capacitação tanto aos médicos quanto aos pacientes é necessária”, defende.