Atenção Primária além da prevenção de doenças e promoção da saúde

Publicado em Notícias - 29 de setembro de 2017

“Olhar de cumplicidade”. Foto: Carine Nunes

Como deve ser a interação entre população e sistema de saúde? Deve prezar pela prevenção e informação? Deve oferecer resoluções em curtos períodos de tempo e conhecer os cuidados específicos necessários para o paciente? Nesta reportagem sobre a importância da atenção primária à saúde da população, conheça soluções, referências e reflexões sobre a amplitude desse nível de atenção, o uso de recursos humanos e materiais, a prevenção quaternária e a capacidade de gestão do sistema de saúde

Bernardo Estillac*

 

A atenção à saúde busca promover, restaurar e manter a saúde da população e a subdivisão do sistema em diferentes níveis visa atingir um maior grau de resolubilidade e o uso mais eficaz dos recursos disponíveis. O serviço centrado na atenção primária busca o contato inicial com os indivíduos e comunidades por meio de estruturas como as Unidades Básicas de Saúde (UBS), por exemplo.

A atenção primária deve trabalhar com a prevenção de doenças, mas também oferecer apoio em diagnósticos e tratamentos. Além disso, os profissionais desse nível de atenção devem ser bem preparados para orientar e encaminhar os pacientes que necessitem de serviços mais complexos. O professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Nathan Souza, fala sobre a real dimensão dos serviços oferecidos pela atenção primária:

Ainda sobre a amplitude dos serviços que devem ser oferecidos no âmbito da atenção primária, Nathan Souza fala sobre a importância de o profissional ser qualificado com ênfase específica nesse nível de atenção, com o objetivo de conseguir alcançar uma alta capacidade de resolver os problemas de saúde da população:

 

 Conhecimento da rede de saúdeApesar de o cenário ideal ter a atenção primária como uma instância de alto grau de resolubilidade, existem casos que exigem recursos de outros níveis de atenção, requerendo uma equipe de profissionais especializados em áreas específicas e estrutura mais complexa. Mesmo assim, a atenção primária enquanto porta de entrada do indivíduo no sistema de saúde, deve cumprir o papel de encaminhar os pacientes de forma competente, o que exige boa capacidade de gestão:

O professor da Faculdade de Medicina da UFMG e um dos coordenadores do 4° Congresso Nacional de Saúde, Nathan Souza. Foto: Carol Morena

“Atenção Primária: Medicina de Família e Comunidade” foi um dos temas centrais do 4º Congresso Nacional de Saúde, que aconteceu entre os dias 28 e 30 de agosto deste ano na Faculdade de Medicina da UFMG. Quem coordenou os debates sobre a atenção primária foi o professor Nathan Souza.

Sustentabilidade

A formação de profissionais qualificados e o investimento no nível primário de atenção à saúde são pontos relevantes para oferecer à população um serviço mais eficiente, além de permitir o melhor funcionamento do sistema de saúde de modo geral. É o que acrescenta Nathan Souza ao lembrar a importância da medicina de família e comunidade e o conceito de sustentabilidade:

Para ilustrar a importância do foco na atenção primária, o professor dá o exemplo contrário, de países em que a atenção é focada diretamente em tratamentos específicos e estruturas secundárias e terciárias, como hospitais e clínicas especializadas. Nesses casos, os custos, tanto humanos como financeiros, são maiores e comprometem a sustentabilidade do sistema de saúde:


Prevenção quaternária e câncer

Um dos principais pensadores da Grécia Antiga, Hipócrates é conhecido como o “Pai da Medicina Ocidental” e tinha como um dos seus princípios “primeiro, não prejudicar”. Tal ideia está presente na prevenção quaternária, assunto apresentado pelo chefe da Divisão de Detecção Precoce de Câncer e Apoio à Organização de Rede do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Arn Migowski, no debate sobre a atenção primária durante o Congresso.

A prevenção quaternária consiste, basicamente, em evitar ações médicas desnecessárias que podem trazer danos ao paciente, como cirurgias dispensáveis, medicamentos em excesso e até tratamentos que possam trazer efeitos colaterais adversos. Na lógica da atenção primária, esse tipo de prevenção pode ser aplicado em doenças como o câncer. Primeiramente, Arn Migowski explica o que é rastrear uma doença:

 

O profissional do Inca, Arn Migowski, discursa sobre a prevenção quaternária no 4º Congresso Nacional de Saúde. Foto: Carol Morena

 

Para o especialista, o termo “exame preventivo” é questionável, já que a realização dos exames não pode prevenir o surgimento de um câncer, mas permitir sua detecção. Ele também afirma que não há evidências significativas que comprovem os efeitos positivos na população de campanhas como o “Outubro Rosa” e o “Novembro Azul” para os cânceres de mama e próstata, respectivamente.

Alguns casos de câncer não evoluem ou evoluem de forma lenta, mas não é possível saber quando nem como ele pode progredir de forma nociva. Por isso, uma vez diagnosticado, o paciente inicia o tratamento da doença, o que pode causar efeitos colaterais importantes. Migowski pondera que os exames de rastreamento deveriam ser realizados em decisão compartilhada entre paciente e profissional da saúde, sob a perspectiva da prevenção quaternária:


Aspas Sonoras

As Aspas Sonoras, produção do Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG, ampliam a discussão sobre os temas abordados nas séries realizadas pelo programa de rádio Saúde com Ciência. As matérias apresentam áudios e textos inéditos daquilo do material apurado durante as produções do programa.

 

Fonte: Faculdade de Medicina da UFMG