Simpósio do Congresso debate novas propostas para enfrentar casos crescentes de obesidade

Publicado em Notícias - 13 de julho de 2017

Programação irá apresentar uma abordagem multidisciplinar do problema da obesidade, incluindo as formas de tratamento, como a cirurgia bariátrica

No dia 30 de agosto, a partir das 9h30, os inscritos no 4º Congresso Nacional de Saúde terão a oportunidade de participar do “Simpósio Internacional de Obesidade: estamos preparados para esse desafio? Reflexões para novas propostas”, para discutir, de forma multidisciplinar, o problema da obesidade.

No Brasil, os indivíduos com sobrepeso são mais de 50% da população adulta. Foto: Banco de Imagem

De acordo com a médica Silvana Bruschi Kelles, coordenadora do Grupo de Avaliação de Tecnologias da Unimed, o Simpósio trará a visão filosófica, nutricional, psicológica, endocrinológica e cirúrgica sobre a obesidade, além da visão de gestores do sistema público e da saúde suplementar. “A obesidade, hoje, é considerada uma verdadeira epidemia no mundo ocidental. No Brasil, os indivíduos com sobrepeso são mais de 50% da população adulta e a obesidade já atinge alarmantes índices de quase 20%”, alerta.

Silvana lembra que o problema está associado a agravos para a saúde, como hipertensão, diabetes, alguns tipos de câncer, entre outras doenças. Por isso, a relevância do Simpósio trazer pesquisadores da área que irão propor alternativas para reverter o crescimento dos casos e discutir as formas de tratamento para o indivíduo já obeso.  Inclusive, ao final do evento, será elaborada uma “carta de intenções” com propostas para prevenir o sobrepeso e cuidar do paciente obeso, a qual será levada às autoridades responsáveis.

O problema da Obesidade no Brasil

Também como mestre e doutora em Saúde Pública pela Faculdade de Medicina da UFMG, com pesquisas sobre indivíduos submetidos à cirurgia bariátrica, principalmente sobre desfechos a médio e longo prazo após a cirurgia, Silvana Kelles aponta questões importantes para reflexão. Prevenir ou operar? Estamos oferecendo aos pacientes o melhor tratamento possível? Estamos operando demais no Brasil, pelo menos na saúde suplementar?

A médica afirma que, no âmbito da saúde pública, o Ministério da Saúde tem procurado desenvolver uma série de políticas para reverter o crescimento da obesidade. “A prevenção é o melhor tratamento, com toda certeza. Programas de incentivo à dieta saudável, ao cuidado com a dieta no período escolar estão em andamento”, conta.

“No último censo verificamos que conseguimos alcançar alguma estabilidade no crescimento do número de indivíduos com obesidade. Mas estabilizamos em níveis muito altos. Precisamos reduzir esses números”, continua Silvana. Essa redução se daria com programas para tratamento clínico, com tentativa de mudança de hábitos de vida, estímulo a prática de exercícios e demais atitudes que favorecem a perda de peso.

“Há dificuldade de acesso à cirurgia no sistema público, com longos períodos de espera em fila por se tratar de uma cirurgia eletiva. Já na saúde suplementar, no outro extremo, a disponibilidade da cirurgia é imediata, desde que o indivíduo preencha os pré-requisitos para sua realização”, informa Silvana. “Com isso, vemos até indivíduos engordando para chegar ao peso que lhes permitirá a cirurgia. Isso é uma distorção importante em relação aos fundamentos da cirurgia”, ressalta.

A médica ainda enfatiza que é um equivoco pensar que, uma vez submetido à cirurgia, a pessoa poderá comer o que quiser e não engordará mais. Ela esclarece que a cirurgia bariátrica oferece uma oportunidade para que o indivíduo mude seus hábitos de vida, mas se continuar, depois da cirurgia, alimentando-se de forma equivocada como antes, vai readquirir o peso perdido em pouco tempo.

Cirurgia Bariátrica

Diante da dificuldade de conseguir resultados duradouros com tratamento clínico e pela alta taxa de cirurgia bariátrica realizadas no Brasil entre os usuários da Saúde Suplementar, Silvana Kelles defende a necessidade de uma discussão maior sobre o tema. Ela exemplifica que, em 2013, os Estados Unidos e Canadá realizaram 44 cirurgias para cada 100.000 habitantes. Já entre os assistidos por planos de saúde no Brasil, no mesmo ano, foram realizadas 165 cirurgias para cada 100.000 usuários. Ou seja, o número de procedimentos é quase quatro vezes maior, sendo que o percentual de indivíduos obesos nos países norte-americanos é comparável ou até maior que no Brasil, de acordo com Silvana.

“A cirurgia bariátrica é uma boa alternativa para o tratamento do obeso grave, mas preocupa a banalização da indicação, ainda mais porque nós não temos muitas informações sobre os resultados em longo prazo dessa intervenção”, explica a médica. “A cirurgia altera, de forma definitiva, o trato gastrointestinal dos indivíduos. O que vai acontecer com eles, nos anos subsequentes à cirurgia, ainda não sabe”, completa.

Os pacientes operados se classificam, geralmente, entre 30 e 40 anos, com expectativa de vida de, pelo menos, mais 40 anos. Mas, atualmente, os dados das pesquisam sobre as consequências da bariátrica não ultrapassam os 20 anos de observação. “Outro aspecto preocupante é a recuperação parcial ou, em muitos casos, quase total do excesso de peso perdido após o procedimento”, lembra Silvana.

A médica alerta que há necessidade de acompanhamento desses pacientes por longos períodos, ou até pela vida toda, devido ao alto risco de deficiência de nutrientes que seriam absorvidos no segmento do intestino excluído com a cirurgia. “Já sabemos que os pacientes operados precisam repor, por meio de medicamentos, vários minerais e vitaminas que não conseguem mais absorver dos alimentos. A anemia após o procedimento é um achado muito frequente”, comenta.

Congresso Nacional de Saúde

A 4ª edição do Congresso será realizada do dia 28 a 30 de agosto de 2017, na Faculdade de Medicina da UFMG, com o tema “Promoção da Saúde: Interfaces, Impasses e Perspectivas”. As inscrições para submissão de trabalhos podem ser feitas até o dia 31 de julho.

O Congresso Nacional de Saúde é direcionado a um público multidisciplinar, composto de profissionais de diversas áreas da Saúde e correlatas, tanto do setor público quanto do setor privado, em especial professores, técnicos e estudantes, bem como agentes da saúde.

O 4º Congresso Nacional da Saúde integra ainda a programação das comemorações dos 90 anos da UFMG, celebrados em 2017.

Mais informações e inscrições na página do 4º Congresso Nacional de Saúde.

Fonte: Faculdade de Medicina da UFMG